Dracdream - Vampira

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18/07/2024
Cresci em um lar amoroso, muito disso graças a minha mãe, que sempre depositou em mim e no meu irmão muito cuidado, do jeito dela. Nunca tive, entretanto, muito convívio com meu pai, apesar de saber que ele amava a mim e ao meu irmão, pois diferente do que muitos fariam, ele nunca deixou de nos amparar em todos esses anos quando mais precisamos. Mas foi um amor distante, aos finais de semana ou em datas importantes. Não todas; apenas quando dava.
Não sabia, no entanto, se ele amava minha mãe, porque ele quase nunca estava por perto. Observava outros casais, e nenhum deles pareciam meus pais. Casais que se amam moram juntos, têm convívio com a família um do outro, se beijam, se abraçam, declaram o amor um ao outro, certo? Certo, eu achava que sim. Por isso, nunca concluí de forma tão clara que meus pais se amavam; para mim, eles apenas tinham filhos e curtiam juntos. Algo simples, prático, sem complicações (eu achava!). Anos mais tarde ouvi minha mãe dizer que ela, realmente, nunca amara meu pai.
Acontece que, crescer dessa forma acabou me distanciando do amor romântico no dia a dia. Mesmo sendo criança, porque crianças estão o tempo todo em contato com o amor romântico, seja em casa, na rua, na televisão e até mesmo na escola. Além do meu pai, nunca presenciei minha mãe se relacionando com nenhum outro homem. Ela passou anos depositando um pouco de afeto romântico que se permitia ter no meu pai. Hoje entendo o quanto isso foi confuso para mim, porque da mesma forma que minha mãe se distanciou do amor nos anos em que esteve com meu pai, eu me distanciei de entender e presenciar como o amor, em teoria (com muitas resalvas) deveria funcionar. Durante muito tempo, na minha infância e pré adolescência, acreditei que, assim como minha mãe, o amor não era para mim. Não por escolha, mas por circunstância.
Minha mãe e minhas duas tias foram três mulheres fracassadas no amor, mas sempre me inspirei muito nelas, então achava que eu não precisaria de amor (romântico) na minha vida se fosse bem sucedida em outros aspectos. Hoje percebo o quão solitárias e dependentes dos filhos elas são. Existem coisas que só a maturidade revela para nós. É, pois é.
Descobrir o amor tem sido uma experiência intensa. É claro que isso se potencializa muitas vezes mais quando considerado o fato de que eu sou uma mulher lésbica, aprendendo a amar outras mulheres em um mundo que pouco me ensinou sobre o amor, quanto mais sobre amor lésbico. Não faço ideia de como relacionamentos funcionam ou de como deveriam funcionar, de fato. Estou sempre confusa sobre meus sentimentos, pois parece que sinto intensamente algo que deveria ser leve. Tenho quebrado a cara (e o coração) nesse processo. Imaginei que soubesse como agir e no final me sinto perdida como se nunca tivesse passado por isso. Gostaria de provar algum dia que amor não é desespero, angústia, insegurança, insônia.
Escutei as palavras de uma diva lésbica na internet recentemente que falava sobre como o amor para ela, há 20 anos dentro de um relacionamento sáfico, havia se concretizado, e acredito ter tirado um novo aprendizado sobre isso. Amar não é sobre sobrepor a vida da outra com a sua, mas fazer com que elas se encontrem no meio do caminho. Estou refletindo sobre essa nova perspectiva e tenho gostado. Também estou lendo bell hooks e pensando no amor num contexto geral, e como isso tem me ajudado a entender meu amor e o de outras pessoas.
A todas as mulheres que já amei, gostaria de me desculpar pela bagunça, mas sem arrependimentos. As que ainda vou amar, gostaria que fossem pacientes comigo. Sou apenas uma jovem cheia de amor pra dar, mas ainda estou descobrindo como. Sou uma romântica em série, e vivo a vida no anseio de ser amada novamente, no entanto estou aprendendo que, no final das contas, meu maior amor será para mim mesma. Até lá, espero amar bastante.

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reminder
percebi que precisava amar a mim mesma depois que você partiu meu coração. se eu me sentir dessa forma toda vez que amar alguém, vou acabar me matando.

