Mai-q-caralha - Elecktra//016

“Você acha que vai morrer durante a madrugada, mas passa.”

— Por quê tão sós?

Você acha que não,

Mas você supera.

"Tem dias em que eu me pergunto se o mundo perdeu um pouco da sua magia, ou se fui eu quem mudou. Lembro-me de quando, nas noites de verão, os vagalumes apareciam como pequenas esferas mágicas, dançando no ar. Era quase hipnotizante, aquele espetáculo silencioso e simples. Hoje, já faz tanto tempo que não vejo um que começo a pensar se eles desapareceram ou se eu simplesmente parei de procurar.

E as estrelas… antigamente, bastava olhar para o céu. A constelação de Orion, a estrela Sirius… elas estavam lá, brilhando num firmamento imenso e cheio de mistério. Era impossível não sentir uma espécie de encantamento, uma curiosidade sobre o que estava além. Mas, hoje, a vida parece tão cheia de luzes artificiais, de barulho, de urgências, que o céu virou pano de fundo, invisível. Será que foram as estrelas que se esconderam, ou será que eu, preso às minhas distrações e preocupações, deixei de enxergá-las? A vida passa tão depressa hoje que parece que nada acontece.

Às vezes, penso que talvez não tenha sido o mundo que perdeu a sua simplicidade mágica, mas sim eu. Talvez o jovem que via beleza e mistério em tudo tenha ficado lá atrás, em algum canto da memória. E agora, com os olhos cansados de tanta rotina, eu simplesmente não consiga mais enxergar o que antes parecia tão óbvio.

O mais triste é perceber que, em algum momento, eu parei de tentar. As noites chegam, e eu já não olho mais para o céu com aquela mesma expectativa. Eu não busco mais estrelas cadentes. Os vagalumes, as estrelas, o vento suave da noite que trazia um sentido de paz e pertencimento… será que ainda estão lá, e eu apenas me tornei indiferente? Ou será que, de fato, o mundo ficou mais frio, mais distante, menos capaz de nos surpreender?

Não sei. Talvez seja um pouco de cada coisa. Talvez a magia sempre tenha estado no jeito que a gente vê o mundo. E, ao perder a capacidade de parar, de observar, de se encantar com o simples, perdemos também essa conexão. A verdade é que sinto falta disso. Sinto falta de me maravilhar com coisas pequenas, de me molhar na chuva sem preocupação, de olhar para o céu de noite deitado no chão, de me apaixonar tão cegamente a ponto de sentir como se uma chama interminável explodisse constantemente dentro da minha alma… enfim, de acreditar que o mundo guarda mistérios que ainda podem me surpreender.

Mas, no fundo, não sei dizer se o problema está lá fora, ou aqui dentro. E essa dúvida… essa sensação de que algo se perdeu – seja no mundo, ou em mim – é o que mais me entristece.

Pelo menos hoje, consegui parar por um momento para escrever esse texto. Talvez esse seja o meu vagalume de agora, uma pequena luz que ainda brilha no escuro do meu interior, esperando que, algum dia, volte a brilhar tão forte quanto uma estrela."

- e.r.