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Se No Tocamos Jazz, No Alimentamos Nossas Almas, Diz Paulo Almeida

“Se não tocamos jazz, não alimentamos nossas almas”, diz Paulo Almeida

Prestes a lançar seu novo disco, o baterista fala de suas inspirações, da cena do jazz no interior paulista e da importância da música na busca da espiritualidade

Por Sarah Teodoro

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Baterista desde os nove anos de idade, o bauruense Paulo Almeida agita a cena jazzística de São Carlos, cidade do interior paulista, onde mora atualmente. Paulo está prestes a gravar seu segundo álbum - o primeiro, “Constatações”, foi lançado em 2013 - e já dividiu palco com grandes nomes do jazz, como Hermeto Pascoal e Arismar do Espírito Santo.

O jazzista bateu um papo com a equipe #Umjazzpordia, onde falou sobre sua carreira, suas influências e a relação da espiritualidade com sua música. Confira:

Como se deu o contato com a bateria? Conte-nos um pouco como você começou na música.  

Eu comecei a me interessar pela música muito cedo por influência do meu pai, que também era músico na época. Ele tocava em uma Big Band na cidade de Bauru, a tradicional “Orquestra Véritas”, que tinha um repertório bem na onda dos jazz antigos. Eu ouvi muito isso desde pequeno, eu sempre gostava de ver meu pai ensaiando e aí fui me interessando pela bateria.  Foi um instrumento que me apaixonei de cara, parecia que era uma coisa que já era pra acontecer, porque eu sempre tive certeza daquilo muito cedo. Aos 9 anos iniciei meus estudos em Bauru com o professor Paulo Del Nery, com quem estudei durante 5 anos. Meu pai me fazia estudar diariamente, era uma coisa meio militar até [risos]. Às vezes eu queria jogar bola ou brincar com meus amigos que viviam na rua o dia todo, mas antes de fazer qualquer coisa meu pai exigia que eu cumprisse minhas obrigações. Foi uma coisa que me ajudou muito por vários lados, e também me afetou um pouco. Hoje creio que essa força que ele me deu foi imprescindível para que eu me tornasse o músico que sou hoje. Minhas primeiras influências começaram na igreja onde toquei por muito tempo, depois comecei a ouvir outras coisas. Coloco como meus mestres de instrumento o grande Tonni Willians, Elvin Jones, Brian Blade, Jack De Jonette e meu mestre Nenê. Alguns músicos que eu ouvia e gostava muito do som foram o Arismar do Espírito Santo, Hermeto Pascoal, Miles Davis, Coltrane e aí vai…

Você passou por cirurgias recentemente e teve que parar de tocar por um tempo. Como foi ficar esse período longe da música? Como isso influenciou o seu trabalho?

Minha história de vida sempre foi um aprendizado para mim. Acredito que vim para resgatar coisas do passado e, graças a Deus, tive a música como meu anestésico e como saída para tirar tanta coisa dentro de meu coração. Eu já fiz 14 cirurgias, nasci com um problema de não ter a musculatura do olho direito e, por isso, desde criança passei por 10 cirurgias. Depois tive que fazer uma cirurgia simples no nariz para poder respirar melhor porque tinha uma sinusite crônica, daí eu acabei descobrindo também que tinha um problema no coração. Foi um desafio enorme e um aprendizado gigantesco para meu espírito. Tive muitas dificuldades de aceitar isso, eu achava que estava sofrendo por algo que não era para eu passar, foi uma crise muito forte. O espiritismo, religião que sigo hoje, me ajudou a aceitar isso com amor e muita gratidão. Na maioria das vezes enfrentamos os problemas com a revolta de estar passando por eles. Não os aceitamos e isso faz com que a gente sofra muito. Nosso espírito sente isso e acaba afetando mais ainda a matéria. Depois de muitas terapias, cirurgia e tratamento espiritual e muita - mas muita! - gente do meu lado me ajudando, eu aprendi a aceitar e ter de mudar coisas dentro de mim que precisavam ser mudadas. O ser humano sente medo da mudança e isso é instintivo, o ego nos atrapalha! Acredito que a maior cura seja da nossa alma, o aprendizado maior é para ela. Daí fiz a cirurgia do coração em abril desse ano e fiquei distante do meu instrumento durante 2 meses, coisa que eu nunca tinha vivenciado. Pensei que ficaria longe da música, mas muito pelo contrário, isso me aproximou mais ainda dela. A sua música é você! A reforma íntima não é apenas na música, e sim no músico! Com isso eu me inspirei em muitas coisas através da benção da intuição e do momento. Compus 10 músicas, que são as que entrarão em meu próximo disco. Para mim será um registro de um renascimento emocionante, e acho que para quem ouvir também.

Toda barreira que passei só me inspirou, só me ajudou a seguir e trilhar caminhos diferentes dentro da música. Não sou uma pessoa mais evoluída por isso, mas sou abençoado demais por ter vivenciado tantas coisas. Isso é aula, isso é uma faculdade, isso é vida.

Você está para gravar seu próximo álbum. O que podemos esperar dele? O que você acha que mudou em relação ao Constatações?

Estou nos processos de ensaios e amadurecimento das composições. Estamos tocando e circulando para ficar com as músicas dentro da gente. Provavelmente gravaremos no fim de novembro, começo de dezembro. Muita energia boa é o que podemos esperar! Esse disco é exatamente o que passei por esse último ano e a diferença em relação ao meu primeiro disco [Constatações] é exatamente o momento, coisa que priorizo em minha música, em minhas composições e na forma de tocar. O momento para mim é o carro chefe!

Você tem movimentado a cena jazzística de São Carlos, cidade onde mora. Como está a cena de jazz no interior atualmente? Existe público pra isso?

O interior tem muito som rolando, muita música instrumental e pessoas muito capacitadas para isso. A cena vem crescendo, acredito que ninguém a movimentará pela gente e, sim, a gente por ela. Se não criamos nosso público, não temos lugar para tocar; e se não tocamos jazz, não alimentamos nossas almas. É simples a coisa: quer tocar? Levanta a  bunda da cadeira e arme sons, crie movimentos. Nenhum artista nasce com um produtor do lado ajudando, temos de pagar por isso e no atual momento isso é quase impossível para um músico jazzista que está começando. Temos de aprender a nos produzir, a criar movimentos. Mas sinto que isso está aumentando e os músicos estão sacando isso. O povo está com vontade de ouvir som criativo e interessante, mas isso não chega. Temos de fazer chegar de algum jeito, de alguma forma.

Quais as dificuldades que você considera que um músico de jazz enfrenta hoje?

As dificuldades são principalmente o espaço e o público, coisas que temos de ir criando com o tempo e na insistência. Aqui em São Carlos, por exemplo, a cena está acontecendo, movimentamos bem. Tocamos pelo menos duas vezes por semana em casas em que rola jazz, mas o público ainda está se formando. Confesso que isso é cansativo, mas é nossa missão: temos de tocar para nos alimentar interiormente. Acho que não devemos ficar apenas focados em bares ou casas noturnas, e sim achar parcerias com ONGs, Pontos de Cultura, etc.

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8 years ago
#working #casamento #trumpet (em Colgio So Carlos)

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9 years ago

Jazz no paraíso: como foi o Caribbean Sea Jazz 2015

A pequena ilha caribenha de Aruba recebe nomes como Roy Hargrove & RH Factor, Earth Wind & FIre e Roberta Gambarini 

Por Aniella S. Arantes

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Roy Hargrove

Famosos por juntar novos talentos com grandes nomes do Jazz na pequena e paradisíaca ilha de Aruba, num festival a céu aberto que junta música, arte e gastronomia, o Caribbean Sea Jazz 2015 apresentou nos dias 25 e 26 de setembro em sua 9ª edição nada menos que Roy Hargrove & RH Factor, Earth Wind & FIre, Mike Stern, Roberta Gambarini, Maité Hontele, Grupo Niche, entre outros.

A primeira das grandes atrações no palco principal do festival foi a envolvente apresentação de Roy Hargrove e RH Factor. O projeto do trompetista iniciado em 2002 , além de contar com excelentes músicos combina R&B, Hip-Hop, Soul, Funk e Jazz.

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Renee Neufville

Roy diz buscar cuidadosamente a qualidade da música tanto nas vozes quanto nos instrumentos. O repertório mesclou músicas de seus três albuns - Hard groove, Strength e Distractions. Com a platéia lotada, num show contagiante o público viu Roy, no trompete e vocais, Renee Neufville, no teclado e também tomando a frente do show com sua voz encantadora, Bruce Williams e Tivon Pennicott no Sax,Todd Parsnow na guitarra,Lenny Stallworth no baixo, Bobby Sparks e Brian Hargrove (irmão de Roy) nos teclados e Jason “JT” Thomas na bateria. 

The Ploctones, o quarteto holandês, que já se apresentou outras vezes no festival, fez um show divertido e descontraido, groovado, com fusão de vários rítmos. Mike Stern ao assistir a apresentação até subiu ao palco para cumprimenta-los durante o show.

Earth, Wind & Fire Experience ft. Al Mckay

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Al Mckay

Com coreografias durante todo o show, impecável afinação e muito brilho a banda fez todo mundo se mexer. Além do público, que gritava e pulava, os outros artistas prestigiaram o show e dançar ao som de “Boogie Wonderland” e outros hits.

Al McKay, 67 anos, não parou um minuto; guitarrista e um dos membros originais de EW&F, ganhou 5 Grammy Awards com o grupo. Compositor de famosas músicas do grupo como “September”, “Sing a Song” and “Saturday Nite”, McKay foi homenageado pela banda durante a apresentação; que poderia ter continuado indefinidamente sem ninguém reclamar, acabou de madrugada.

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Mike Stern

O festival continuou com Mike Stern que teve o público reduzido devido ao horário, mas fez do final da noite um espetáculo com sua guitarra, acompanhado por Bob Franceschini no saxofone, Janek Gwisdala no baixo e o mestre da bateria Dennis Chambers. Mike é considerado uma lenda viva e foi inclusive premiado com o Legend Award da revista Guitar Player, tocou com Miles Davis, Jaco Pastorius, Marcus Miller, Richard Bona, Kenny Garrett e inúmeros outros grandes nomes do jazz.

 Tocaram também na sexta feira as bandas locais The Failures, Fluentes, Delbert Bernabela e Michael Bremo. E quando pensamos que havia acabado o primeiro dia, os músicos se juntaram para uma jam session incrível no Plaza Café durante a madrugada. Impagável!

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Maite Hontele

O sábado veio com o ritmo mais latino. A holandesa Maite Hontele, que mora na Colômbia há cinco anos, chegou com um viés cubano, boleros, cha-cha-cha e muita alegria. Maite disse ao público que nasceu no continente errado e que é muito feliz tocando na América Latina. A carismática trompetista se apresentou também com Diego King e ambos animaram os casais a dançar pela pista até cansar.

Roberta Gambarini, que viria à São Paulo com Roy Hargrove, se apresentou com o pianista Sullivan Fortner, Justin Robinson no Saxofone alto, Ameen Saleem no baixo acústico e retomou o jazz da noite em temas clássicos como cações da ópera “Porgy and Bess”, “Body and Soul”. A italiana ainda falou de seu carinho pelo Brasil e cantou “Chega de Saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Roberta Gambarini

A noite ainda contou com Frank Granadillo e Big Band, Jhonny Scharbaay, Live Expressions, Robert Jeand'or e Jessy J.

Grupo Niche tem 35 anos e manteve incrível intimidade com o público que cantou e dançou suas canções. A banda de salsa colombiana, com forte energia, um trio de cantores, muitas coreografias e um grande time de músicos, encerrou o festival em uma agitada apresentação.

Jazz No Paraso: Como Foio Caribbean Sea Jazz 2015

Dispensa legendas. ;)

O festival, muito bem organizado, teve uma galeria de arte em ficaram expostas obras de 40 artistas, uma praça de alimentação á céu aberto com culinárias holandesas, locais e fusões, como por exemplo, as opções do restaurante Papiamento com gastronomia contemporânea misturada a comida local.

9 years ago
Libert, Galit, Fraternit: Celebrating French Culture With @lucille_clerc
Libert, Galit, Fraternit: Celebrating French Culture With @lucille_clerc
Libert, Galit, Fraternit: Celebrating French Culture With @lucille_clerc

‘Liberté, Égalité, Fraternité’: Celebrating French Culture with @lucille_clerc

To see more of Lucille’s work, follow @lucille_clerc on Instagram. To explore more stories from the French-speaking community, follow @instagramfr.

(This interview was conducted in French.)

“Sometimes an illustration is more direct than words,” Lucille Clerc @lucille_clerc says. Since the November Paris attacks, the London-based, French-born illustrator has been working on illustrations of the French values “liberté, égalité and fraternité” (liberty, equality and fraternity). Drawing allows Lucille to stay connected to her native country’s culture: “It helps me a lot to draw these days. These values — liberté, égalité, fraternité — they are not only French. They are universal.”

8 years ago
BENT NOTES FOR BENT MUSICIANS

BENT NOTES FOR BENT MUSICIANS…

Source of pic: Justin Bua (Jazz Trio)